Crescimento das parcerias público-privadas no Brasil e sintetização da tecnologia e dos aprendizados científicos durante a pandemia foram conquistas importantes em 2020
Várias foram as ações realizadas ao longo de 2020 pela iniciativa privada e membros da sociedade civil para combater os efeitos da pandemia. Na Cyrela, a primeira ação realizada por meio do apoio voluntário de centenas de colaboradores foi a doação financeira para a fabricação de testes de diagnóstico do COVID-19. Foram doados R$ 230 mil a este fim.
Realizada em março, a ação veio frente à urgência para intensificar a produção de testes para detecção do novo coronavírus. Na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por sua vez, havia a pressão de viabilizar em tempo recorde o expressivo número de testes necessário ao enfrentamento estratégico da doença. Para tal, a Fundação deu vida à campanha Unidos contra a Covid-19, um portal para doações e para o compartilhamento de resultados nessa frente.
Em 2021, a pandemia permanecerá. Para relembrar este importante momento em que as parcerias público-privadas foram determinantes para o enfrentando da doença e para compreender o impacto das doações realizadas à Fiocruz, conversamos com Luis Fernando Donadio, Coordenador de captação da Fundação Oswaldo Cruz.
Quão importante foi a participação de empresas como a Cyrela para intensificar a produção de testes e na aquisição de outros itens essenciais no início da pandemia?
Logo no início já pandemia, em março, organizamos na Fiocruz um programa chamado Unidos Contra a Covid-19. O objetivo era justamente somarmos força junto à iniciativa privada, à sociedade civil e ao poder judiciário para o fortalecimento das ações da Fiocruz diante da pandemia. Mas a gente ainda não tinha a real noção de tudo que viria pela frente. A gente estava falando ali em março de um vírus que era muito desconhecido. Então teve todo mundo de aprendizado nesse enfrentamento e, naturalmente, o amadurecimento das ações da Fiocruz. E também a gente não tinha ainda a noção do quão generoso seria esse movimento de acolhimento solidário à Fundação. Agora nesse momento (entrevista realizada em dezembro de 2020) chegou a R$ 470 milhões doados à Fiocruz, possibilitando um conjunto de realizações de norte a sul do país. Esses 470 milhões vêm de diferentes instituições de todos os tamanhos e portes, empresas, fundações, institutos, poder judiciário e também da sociedade civil – aproximadamente 2.500 pessoas que colaboraram com o programa. Esse acolhimento, esse apoio que nós recebemos da iniciativa privada e de indivíduos e fundações foi e continua sendo muito importante para o fortalecimento do trabalho da Fiocruz. As ações que nós realizamos como fruto desse recurso já estão deixando alguns legados superimportantes.
E fica também um aprendizado sobre a importância das parcerias público-privadas. Do quanto todos nós, juntos, somamos força frente à pandemia, não é mesmo?
Total. As pessoas às vezes dizem que o Brasil não tem uma cultura de doação. Isso não é verdade. O Brasil tem já há alguns anos um movimento bem significativo de mobilização de empresas, fundações e indivíduos, mas culturalmente mais voltado para ações de educação e de assistência, e menos comum para iniciativas de ciência, tecnologia e saúde. Eu acho que a pandemia trouxe uma percepção social da importância do apoio à ciência e tecnologia do país, porque a soberania de um país passa por uma ciência forte, por um país com capacidade de desenvolvimento produtivo nas diversas áreas – e aqui a gente também está falando de saúde. A pandemia traz isso como legado, a percepção da importância da parceria público-privada para o bem-estar social, muito voltada para a questão da pesquisa e da inovação tecnológica em saúde.
E acho que ficou muito presente a importância de nós fortalecermos com doações o sistema público de saúde. O como ter um sistema público de saúde forte, no momento de uma emergência sanitária como a que a gente viveu, faz uma diferença entre vida e morte. Isso fica como um legado de aprendizado. E também aqui falando como uma instituição pública, a gente sempre olhou muito para os modelos internacionais, onde a gente vê que as universidades públicas e os institutos de pesquisa recebem muitas doações para os seus laboratórios de pesquisas de ponta. No Brasil isso ainda não tem, tudo o que aconteceu ajudou a trazer mais essa percepção. Aquilo que a gente sempre admirou muito nesses modelos internacionais, a gente pôde vivenciar aqui.
Estou falando do lugar da Fiocruz que recebeu todo esse aporte, esse abraço solidário, mas a Universidade Federal de Minas Gerais também, vários institutos de pesquisa como o Butantã também receberam importantes apoios financeiros. Tudo isso impactou muito diretamente na produção cientifica e continua impactando com respostas claras e objetivas à sociedade nesse contexto da pandemia. E a gente tem que buscar dar continuidade a isso, e de fato internalizar essa experiência do público e do privado que se unem para o bem-estar social.
De que forma as empresas podem continuar ajudando? Quais as possibilidades na Fiocruz agora nesse início de ano nesse foco?
A gente continua vivendo a pandemia e enfrentando a pandemia. O programa Unidos contra a Covid-19 continua aberto e continua recebendo as doações. Tem todo ainda um desafio em termos de pesquisas que nós estamos desenvolvendo, a própria vacina, que agora está em todo o processo de produção e de internalização de tecnologia. Isso é muito importante para a ciência! A gente não está simplesmente importando uma vacina de fora, a gente está incorporando a tecnologia dessa vacina para que a gente tenha autonomia e soberania na nossa produção.
Para tudo isso, o apoio da iniciativa privada e da sociedade civil continua sendo muito importante para a gente. Então para a Fiocruz, de uma maneira bem específica, é possível continuar apoiando por meio desse programa e o recurso continua sendo completamente direcionado para um conjunto de frentes que a gente está atuando.
Citei aqui vacinas e pesquisas, mas há também várias iniciativas nossas que são na área de educação e na área de apoio humanitário, porque esse é um dilema muito duro que a gente está vivendo: o número de famílias atingidas. Eu costumo dizer que a tempestade que se abateu sobre a nossa vida foi a mesma, mas com efeitos completamente diferentes. Há pessoas que estão conseguindo atravessar essa tempestade de uma forma muito menos danosa, muito mais segura do que milhares e milhares de outras. O efeito social da pandemia ainda vai ser sentido por muito tempo e a gente tem procurado continuar apoiando, na medida em que a gente tem recebido recursos da sociedade civil e da iniciativa privada.
Qual o canal para essas doações?
O próprio site do programa: unidos.fiocruz.br. Lá você pode saber tudo o que já foi feito, tudo o que foi doado, no que seu dinheiro foi colocado, quais os resultados que foram gerados até o momento e também doar por ali mesmo. É uma plataforma que te permite fazer a doação por cartão ou boleto na hora.