Projeto Enter Jovem estimula a inserção de jovens no mercado de trabalho

Realizado em escola do Rio de Janeiro, projeto incentiva adolescentes a buscarem formação e empregos após o fim do ensino médio

enter jovem projeto social apoiado instituto cyrelaQuase quatro em cada dez brasileiros (36,5%) de 19 anos não completaram o ensino médio em 2018. Destes jovens, 62% não frequentam mais a escola e 55% deixaram de estudar no ensino fundamental. Isto é o que mostram dados divulgados pelo movimento Todos pela Educação, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para evitar a evasão escolar e preparar os jovens para o futuro, foi criado o Projeto Enter Jovem, que tem como objetivo principal qualificar jovens do Ensino Médio para a inserção no mundo do trabalho. O projeto existe desde 2008 e já foi executado em diversos estados do Brasil. No Rio de Janeiro, ele recebe o patrocínio do Instituto Cyrela e é realizado na escola Olga Benário Prestes, que fica no bairro de Bonsucesso – próximo ao Morro do Alemão e ao Complexo da Maré.

“O que motivou este projeto foi a preparação dos jovens para a inserção no mundo do trabalho. Esse é o nosso grande objetivo. Trabalhamos com jovens que não têm experiência. Há adolescentes que querem se inserir no mundo do trabalho, mas encontram muitos desafios. Muitas vezes é a timidez excessiva ou a baixa autoestima. Há jovens que querem, mas não sabem como buscar. Especialmente aqueles que vêm de um contexto familiar muito difícil. Então o Enter Jovem nasceu para ser um projeto que pensa a empregabilidade, o empreendedorismo e, principalmente, uma orientação para o jovem elaborar ou reelaborar seu projeto de vida”, explica Cleide Moraes, assistente social e gerente de projetos do Instituto Enter Jovem.

No início, o projeto começou com 25 alunos, mas o sucesso foi tão grande na escola, que hoje são atendidos 100 jovens por ano – sendo duas turmas de 25 jovens por semestre. Os encontros são realizados duas vezes por semana e duram 4 horas cada um. No final do ano, todos recebem certificações.

 

De acordo com Cleide, a metodologia utilizada é a socioprofissional. “A ideia não é arranjar o emprego para eles, isto é, não encaminhamos os alunos para vagas. Procuramos fortalecer conhecimentos e habilidades para que eles possam buscar os próprios caminhos. Aqui, a parte social vem antes – eles aprendem a conviver com os outros, com as diferenças e a se conhecerem. Dentro das quatro horas que passam aqui, eles têm um conteúdo que vai desde a questão da identidade – como cada jovem se reconhece como pessoa, como reconhece o seu território e como atua como cidadão nesse processo. Depois, a gente vai introduzindo os conteúdos voltados ao mundo do trabalho – como atender um telefone, que postura é preciso ter, que atitude é esperada deles, como conviver com os outros respeitando as diferenças. O projeto trabalha muito as atitudes e comportamentos”, destaca Cleide.

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O Enter Jovem está alinhado ao Currículo Escolar, fazendo pontes com os conteúdos tratados em sala de aula. “Por exemplo, este ano, junto à turma do primeiro semestre realizamos um trabalho em parceria com o professor de história da escola Olga Benário Prestes, quando articulamos uma visita dos alunos ao Instituto Pretos Novos. Lá, eles puderam conhecer a história dos primeiros negros que chegaram ao Rio de Janeiro, formando as primeiras comunidades. Foi um dispositivo para debater, escola e Enter Jovem juntos, conteúdos que permeiam tanto História, quanto cidadania, direito e outros temas importantes para a formação cidadã do jovem”, afirma Cleide.

Para a gerente de projetos, o apoio do Instituto Cyrela é fundamental para fortalecer a metodologia de projetos dentro da escola e também para promover o desenvolvimento de novas experiências de educação, que integram essa vivência prática com o conteúdo da matriz curricular. Cleide também afirma que esse projeto também é um grande termômetro para a escola, uma vez que a convivência mais próxima com esses 100 alunos permite ouvir suas percepções e propor melhorias para a escola.

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Projeto Amorosidade e a saúde mental

No final de 2018, os alunos da escola Olga Benário Prestes vivenciaram uma forte onda de violência e brigas de facções no Rio de Janeiro. Com isso, a escola teve que ser fechada em alguns momentos e em várias vezes os alunos não puderam comparecer. “Neste período, percebemos na fala dos alunos a insegurança, a ansiedade, o medo. Alguns queriam desistir do projeto. Outros tinham a perspectiva da solidão. E, ainda, havia a questão de vícios tecnológicos – os jovens acabam ficando muito presos ao telefone. Com base nisso, a gente criou o Projeto Amorosidade, que é justamente uma tentativa de, dentro da carga horária do Enter Jovem, ouvir estes adolescentes. Reservamos algumas horas e convidamos uma psicóloga para fazer um trabalho de escuta. Como não conseguimos fazer isso de maneira individual, por não haver tempo, criamos rodas, que a gente chamou de diálogos e escutas”, conta Cleide.

Este ano, a partir do Projeto Amorosidade, eles construíram um projeto de desenvolvimento comunitário da escola, falando de saúde mental. “Eles replicaram um pouco do conhecimento que tiveram aqui para outros alunos na escola, com orientação em cartazes, mensagens de acolhimento e atenção e informações de onde procurar ajuda quando precisarem. Eles transformaram isso em um outro projeto, de alcance maior na escola. De alguma forma, todo mundo ouviu falar do projeto de saúde mental que os alunos do projeto Enter Jovem promoveram. O poder de capilaridade é amplo quando o jovem realmente se envolve”, revela Cleide.

enter jovem projeto social apoiado instituto cyrelaIncentivo ao empreendedorismo

De acordo com a Pesquisa GEM, de 2007 a 2017, em 10 anos, o Brasil passou de 14,6 milhões de empreendedores para 49,3 milhões. Por conta do crescimento desse interesse, o Projeto Enter Jovem também aposta no empreendedorismo como um caminho para o jovem se inserir no mercado de trabalho.

De acordo com Cleide, este é um outro aspecto que foi fortalecido com a atuação do Instituto Cyrela. “Orientamos os alunos no sentido de que se eles não conseguem se inserir no mundo do trabalho por falta de oportunidade ou porque falta de desejo de trabalhar naquela área, existem outras maneiras de gerar renda, de pensar na inserção produtiva. O projeto então apoia iniciativas empreendedoras – que muitas vezes os jovens já fazem no seu dia a dia, na sua comunidade ou com a família. Para nós do Instituto Enter Jovem, empreender é uma alternativa de inserção produtiva e de gerar renda com dons, talentos e interesses que eles já têm”, afirma Cleide.

Os participantes que se interessam pelo empreendedorismo recebem orientações e podem apresentar seus projetos para uma banca – o Desafio Empreender. As melhores ideias recebem um Capital Semente para investir no projeto. Há também um acompanhamento posterior do trabalho desenvolvido.

O empreendedor e estudante universitário Nathan Rocha, de 20 anos, foi um dos ganhadores do Desafio Empreender. “Sou muito agradecido pela oportunidade que o Enter Jovem me ofereceu. Entrei no projeto para ocupar o meu tempo e pela possibilidade de conseguir um emprego. Hoje sigo com o negócio das coxinhas, inovando com novos sabores e também estou cursando contabilidade na faculdade. Sempre corri atrás dos meus sonhos e o Enter Jovem me impulsionou ainda mais”, justifica.

Resultados

Para a assistente social e gerente de projetos do Instituto Enter Jovem, um dos maiores sinais de sucesso no projeto é ter os jovens empoderados e atuando nas escolas como protagonistas e sujeitos de direitos e deveres, com potencial de melhoria da escola. Outro grande benefício apontado por Cleide é o índice de aprovação dos alunos que participam do projeto.

“Não temos casos de alunos que repetiram de ano, que ficaram estacionados. Todos têm essa elevação. De 2016 pra cá, temos cerca 50% dos jovens progredidos, isto é, que estão na universidade, fazendo curso técnico ou trabalhando. Creio que não há nenhum caso de jovem que a gente perdeu para o tráfico. Teve jovem que desistiu do projeto por conta de pressões de facções rivais nas favelas e a família teve que se mudar. Mas não de jovens que morreram por conta disso. A gente consegue medir o alto índice de satisfação dos alunos na participação do projeto, observando pela procura, pelo respeito e pela referência que o projeto é na escola”, comenta Cleide.

Rafael Magalhães, que hoje é estudante de cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF), é prova viva dos resultados. “Quando vi o resultado da minha aprovação, não acreditei na hora! Fiquei muito feliz e um pouco apreensivo com o que ia acontecer daqui por diante. O Enter Jovem foi uma das melhores experiências que vivi na minha vida estudantil. Aprendi muita coisa e sei que vou levar para a vida: conselhos, orientações e todo o apoio para essa nova etapa eu pude tirar da minha experiência com o projeto!”, conclui.