As peças são confeccionadas por detentas, ex-detentas, refugiadas e imigrantes em situação de vulnerabilidade social
A pandemia afetou fortemente os projetos sociais – especialmente pelo fato de que a maioria deles é dependente da presença física dos participantes. O Movimento #EuVistooBem foi umas das instituições impactadas – vários de seus projetos voltados à confecção de materiais costurados (embalagens, brindes, materiais para eventos e acessórios) foram cancelados, por serem voltados a marcas do varejo. Todos estes itens são produzidos por mulheres em situação de vulnerabilidade, como detentas, ex-detentas, imigrantes e refugiadas.
No entanto, a instituição é um bom exemplo de adaptação neste período de pandemia. Em meio à situação crítica, Roberta Negrini, idealizadora-fundadora do projeto, buscou em sua rede de contatos soluções que fizessem sentido neste momento. Foi assim que surgiu o movimento #EuCuido, voltado para a doação de máscaras.
“Percebemos que havia muitas pessoas que não tinham condições de comprar uma máscara. Por isso, pensamos em fazer um projeto que atendesse essa demanda e continuasse empregando pessoas. A ideia não era gerar lucro, era apenas sobreviver. Por isso, criamos um projeto sem fins lucrativos em parceria com organizações do setor privado, como o Instituto Cyrela e o Grupo Gaia. Estes parceiros fizeram a doação financeira. Com isso, compramos o material e conseguimos remunerar as costureiras de forma adequada”, conta Roberta.
Assim como no Movimento #EuVistooBem, a iniciativa #Eucuido também envolve o trabalho de mulheres em situação de vulnerabilidade. Quem confecciona as máscaras são detentas dos presídios feminino do Butantã e de Santana, na cidade de São Paulo, além de uma oficina que emprega refugiadas e ex-detentas. O objetivo é oferecer uma renda digna para quem busca uma segunda chance por meio do trabalho. “Costumamos dizer que as peças são costuradas por uma mulher vulnerável para ser entregue a outras mulheres vulneráveis”, aponta Roberta.
Distribuição das máscaras
De abril a agosto de 2020, foram entregues quase 150 mil máscaras, que atenderam a mais de 30 instituições pelo país.
A inscrição para receber as doações foi feita através da plataforma Eu Cuido. “Nós tínhamos uma curadoria feita pela Dínamo para averiguar a idoneidade das instituições. Atendemos ONGs, tribos indígenas na Amazônia e outras comunidades. Aqui na Brasilândia enviamos muitas máscaras também”, revela Roberta.
Máscaras sustentáveis e de qualidade
De acordo com Roberta, parte da matéria-prima para a produção das máscaras é proveniente da economia circular, pois usa polímero reciclado de garrafa PET. Além disso, para sua confecção é utilizado o algodão orgânico. “Trabalhamos com Produção Lixo Zero, no qual o resíduo é reaproveitado”, afirma.
As máscaras produzidas também são de alta qualidade e possuem três camadas: duas de tecido mais uma de TNT. “O tecido utilizado ajuda a barrar as secreções e todas as peças são feitas com um elemento filtrante no meio que reforça a proteção. Elas possuem tramas fechadas e seguem as normas da ANVISA. Além disso, as máscaras foram aprovadas e certificadas pelo Hospital Albert Einstein”, conclui Roberta.